quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Da simplicidade




Talvez pessoas perguntem porque falar deste filme. Eu não sei bem o que mais me chamou atenção nele. Não foi um filme divulgado, não tenho certeza se ficou muito tempo no circuito porto-alegrense de cinema. Aliás, tive notícia dele através da cerimônia do Oscar, pois Christopher Plummer ganhou, merecidamente, como melhor ator coadjuvante. O que me chamou atenção foi, justamente, o papel dele, pois trata-se de um senhor de já avançada idade, que declara-se homossexual. Ora, um filme que trata de tal assunto, merece ser pelo menos mencionado. A partir disso, faço uma mini-análise desse microcosmo de "Beginners" (não gosto do título em português, pois parece uma tentativa de aproximar a música do Lulu Santos ao filme, he he). 

Com a notícia de que seu pai é gay, o personagem de Ewan McGreggor, Oliver, vê-se surpreendido, mas ao mesmo tempo, esclarecido. Vejo isso, pois é a partir daí que a relação de seus pais e a sua própria criação fazem sentido pra ele. Meses após a morte de sua mãe, em função de um câncer, Oliver vê-se de novo as voltas com a doença, dessa vez, atingindo seu pai, que havia se declarado gay há pouco. O filme é um vai-vem de lembranças, que encaixam os pensamentos do Oliver atual, que busca conforto na bela francesa Anna (interpretada pela lindinha Mélanie Laurent).
O que me fez parar e analisar este filme é o fato de ele parecer insípido, em uma primeira olhada, mas, na verdade, ser composto de diálogos que nos fazem refletir, de verdade. Ora, redemoinhos e reviravoltas acontecem em nossas vidas, em maior ou menor grau e Beginners trata deles de forma sensível e diferenciada. Não há clichês, nem mesmo no romance dos protagonistas, pois tudo é construído de forma sincera, de forma que entramos no cotidiano de Oliver e Anna. Cotidiano, este, que torna-se pesado, a medida que começamos a entender seus históricos familiares. A personagem de Anna, particularmente, emite frases que até hoje ecoam nas minhas conversas internas. Gosto de pensar que filmes que são capazes de nos impactar com seu roteiro bem construído, unido a uma montagem ágil que prima pelos diálogos, ficam em minha memória, por seus aspectos aparentemente simplórios. Bergman conseguiu proezas imensas com um sala de estar, vinho e duas atrizes incríveis. Não estou aqui comparando o filme do iniciante Mike Mills com a sonata de Bergman. Apenas o uso para ilustrar a capacidade de se fazer algo bom, honesto e impactante a partir de elementos aparentemente simples. Esse é o trunfo de Beginners e é por isso que ele merecer ser visto.