sábado, 15 de junho de 2013

De uma nova paixão

Faço um pequeno adendo, já  no início deste texto, para explicar o porque deste filme ter me tocado tanto: assisti-o em meio as notícias sobre os protestos em São Paulo, no dia 13 de junho. O terror de ver tanta brutalidade, elevou o a capacidade dramática da obra de Angelopoulos, um primor de realização.

 Começando por uma questão estética forte, numa noite escura, temos duas crianças na estrada. Paisagem na Neblina retrata crianças, no sentido estrito, sendo uma delas bem pequena. Não são jovens que buscam um sentido em sua vida vazia, nem que buscam esquecer o que deixam pra trás. São crianças que buscam um pai, um norte. Uma busca que se torna a descoberta do mundo, dos vários sentidos do mundo. É simbólica a busca por um pai, por uma identidade desconhecida, perdida em algum lapso do tempo. As crianças são uma junção de sentimentos, são um complexo de ideias, muito bem trabalhados pelo diretor. Personagens chave perpassam o caminho dos jovenzinhos, levando-os a presenciar e a participar de diferentes nuances e faces do ser humano, por mais desumanas que - algumas vezes - elas possam ser. 
As locações imprimem um clima frio na tela, uma sensação de desolação contínua, que coloca os personagens sob tomadas de um céu muito claro, com planos de grande profundidade, como se tudo fosse grandioso perto daqueles seres sem rumo (mesmo que seu destino seja a Alemanha). 
Os sentidos que o filme provoca ficam pulsantes, não sei muito bem definir o que se sente com tais ideias. São sensações mistas, mas, mais do que isso, é uma sensação de descoberta, pois é o primeiro filme que assisto deste diretor. E, tenho certeza, será uma nova fonte de inspiração e admiração para meu repertório, que já andava carente de boas descobertas.
 


sábado, 16 de março de 2013

Caverna dos sonhos que eu já nem lembrava



Não tenho certeza de quando mas, há algum tempo, o tema sobre a busca do ser humano pela representação de seu pedaço de realidade tem me interessado e me deixado absorta em pensamentos longínquos. Minha admiração por este filme do cineasta Werner Herzog, que assisti hoje numa sessão promovida pelo cineclube da universidade em que estudo, Caverna dos Sonhos Esquecidos, vem do fato de ele colocar-se à frente de perguntas que remetem a este tema, pois o tempo todo eu me admirava com o capacidade do ser humano, desde os tempos mais remotos, em buscar a representação daquilo que via, a busca por afugentar aquele pedaço de tempo. Me impressiona a eterna caminhada do homem por capturar e eternizar o momento, sabendo-se incapaz disso. Recorrer a desenhos de fusões humano-animal, mutações, talvez sejam formas de se comportar diante do tempo, da passagem desse tempo que nos é tirado. Me vi deslumbrada pela possibilidade de ver um lugar intocado, inóspito, que trazia-nos um pedaço da dimensão do que é o tempo histórico. 
Pois, diante de tantas imagens bonitas, ficou-me esta sensação, que permeia debates de arte a muitos anos e que é cara a todos que entram nela: a representação da vida, através da arte é, talvez, uma utopia. Nunca resgataremos aquele pedaço de momento. Nunca teremos a exata certeza do que aconteceu. Mesmo a câmera de Herzog, que nos levou a passear pela caverna, não mostrou-nos tudo. Ou tudo que veríamos se estivéssemos lá. Desse modo, essa sensação de incompletude, de falta de abrangência, fica martelando meus sentidos nesse momento, fazendo-me pensar, como estudante de cinema, que pedaço de mundo eu quero representar? O que pretendo eu levar para o público? Que pretensão é essa de ser cineasta, querer abranger o todo, quando isto é impossível? Talvez, sejam estes pequenos pedaços que levam a uma compreensão um pouco maior do que vem a ser o mundo, que nós vemos e que queremos mostrar. 

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Da simplicidade




Talvez pessoas perguntem porque falar deste filme. Eu não sei bem o que mais me chamou atenção nele. Não foi um filme divulgado, não tenho certeza se ficou muito tempo no circuito porto-alegrense de cinema. Aliás, tive notícia dele através da cerimônia do Oscar, pois Christopher Plummer ganhou, merecidamente, como melhor ator coadjuvante. O que me chamou atenção foi, justamente, o papel dele, pois trata-se de um senhor de já avançada idade, que declara-se homossexual. Ora, um filme que trata de tal assunto, merece ser pelo menos mencionado. A partir disso, faço uma mini-análise desse microcosmo de "Beginners" (não gosto do título em português, pois parece uma tentativa de aproximar a música do Lulu Santos ao filme, he he). 

Com a notícia de que seu pai é gay, o personagem de Ewan McGreggor, Oliver, vê-se surpreendido, mas ao mesmo tempo, esclarecido. Vejo isso, pois é a partir daí que a relação de seus pais e a sua própria criação fazem sentido pra ele. Meses após a morte de sua mãe, em função de um câncer, Oliver vê-se de novo as voltas com a doença, dessa vez, atingindo seu pai, que havia se declarado gay há pouco. O filme é um vai-vem de lembranças, que encaixam os pensamentos do Oliver atual, que busca conforto na bela francesa Anna (interpretada pela lindinha Mélanie Laurent).
O que me fez parar e analisar este filme é o fato de ele parecer insípido, em uma primeira olhada, mas, na verdade, ser composto de diálogos que nos fazem refletir, de verdade. Ora, redemoinhos e reviravoltas acontecem em nossas vidas, em maior ou menor grau e Beginners trata deles de forma sensível e diferenciada. Não há clichês, nem mesmo no romance dos protagonistas, pois tudo é construído de forma sincera, de forma que entramos no cotidiano de Oliver e Anna. Cotidiano, este, que torna-se pesado, a medida que começamos a entender seus históricos familiares. A personagem de Anna, particularmente, emite frases que até hoje ecoam nas minhas conversas internas. Gosto de pensar que filmes que são capazes de nos impactar com seu roteiro bem construído, unido a uma montagem ágil que prima pelos diálogos, ficam em minha memória, por seus aspectos aparentemente simplórios. Bergman conseguiu proezas imensas com um sala de estar, vinho e duas atrizes incríveis. Não estou aqui comparando o filme do iniciante Mike Mills com a sonata de Bergman. Apenas o uso para ilustrar a capacidade de se fazer algo bom, honesto e impactante a partir de elementos aparentemente simples. Esse é o trunfo de Beginners e é por isso que ele merecer ser visto. 

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

A insegurança produz ruídos






Não sei bem como explicitar o desconforto que O Som ao Redor, do diretor Kléber Mendonça Filho, me causou. Como muitas pessoas, tenho medo, talvez até  demais, da violência. No caso desse filme, não se trata somente da violência urbana, mas sim, da violência interna, da violência velada do dia dia, seja numa dona de casa frustrada ou num coronel que ascendeu através da exploração de classes mais baixas. O fator do desconforto está, justamente, nessa aura que a direção de som cria no filme, com maestria, pois nos leva a momentos de tensão e incomodo, como se não pudéssemos respirar. O alívio vem atrelado a metáforas, que nos transportam para a violência novamente, como a cachoeira de sangue e mergulho em uma área de risco. Não se trata, portanto de um filme simples, linear, óbvio. É daqueles filmes que desafiam o público a ver além do superficial, a se identificar com os personagens, em menor e maior grau, de forma a nos colocar em situações como as dele. A fotografia põe-nos a par de um interior coronelista decadente e de uma desorganização urbana cheia de arestas e de recantos que expõe as pessoas umas as outras. Assim, o filme trabalha as várias camadas sociais, cheias de um passado histórico baseado na luta de classes e no poder tirânico, vindo tal poder de qualquer pessoa e qualquer lugar. 

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Holy Motors (I)




Eu não assisti em boa qualidade, infelizmente. Fiz download, pois estava muito curiosa e perdi o filme quando esteve em cartaz. Me arrependo pela questão da qualidade, pois a fotografia parece-me digna de uma sala de cinema. Mas, enfim, cá estamos. 
A primeira coisa que devo dizer é sobre o pacto que fazemos com o cinema: queremos ser enganados, chegamos a sala de projeção estamos preparados para ser convencidos daquilo. A sequência inicial de Holy Motors traz justamente essa questão, pois coloca-nos frente a um espectador que adentra um suposta floresta e nela temos o espetáculo do cinema. Daí pra frente, o que nos perturba são as constantes transformações de M. Oscar. Suas personagens são uma sucessão de estranhos, de variadas posições sociais, que preenchem cada ato com muitas dúvidas e reflexões. Aparentemente, este é o trabalho de Oscar, representar outras vidas, representar o tempo todo. Mas e nós mesmos não somos representações, em maior e menor grau? Talvez sim. Nesse caso, os momentos em que Oscar pode ser "ele mesmo", são os momentos em que prepara-se para o próximo personagem dentro da limousine. A senhora, Céline, que o leva pelas ruas é sua guia, sua ligação com o mundo externo e "real". Mesmo assim, ordens são ordens, e Céline tem de lembrar seu companheiro de suas obrigações, o que, de certa forma, cerca os momentos de repouso de Oscar. 

Acredito que o impacto de Holy Motors venha do que poderia chamar-se de "tapa na cara", de um golpe na platéia. Li um texto do crítico Fábio Andrade, na revista Cinética, que me deixou feliz, digamos assim, pois ele compara o filme ao livro do genial Italo Calvino, Se um Viajante numa Noite de Inverno, o qual é um dos meus livros favoritos, do meu autor favorito. Depois disso, comecei a ver essa ligação e percebi que faz todo sentido, sendo o "tapa na cara" que mencionei, a interação de Calvino com o "leitor" e a "leitora", contando a história dos dois. Assim, M. Oscar seria a interação com o público e o fato de não sabermos de onde vêm e qual a história dos personagens que ele interpreta, fazem a analogia proposta na crítica. 
Dito isso e sendo essa minha primeira crítica ou primeira tomada de impressões, deixo aqui a recomendação da leitura e a assistência do filme (he he) e o aviso de que haverá volta, pois pretendo achá-lo em qualidade melhor. 

Olá, olá.




Eu não sei fazer crítica será o espaço para o treino, aperfeiçoamento e blá blá da escrita. Não tenho prática em escrita sobre cinema e não estou aqui para fazer julgamentos de ruim ou bom. Com o pouco conhecimento que tenho de tal arte e com o que arrecadarei ao longo do curso de Cinema, pretendo manter esse espaço como forma de base, de plataforma de lançamentos. São críticas (artigos, ensaios, "textículos") sem pretensões, como forma de mostrar e elucidar o que tirei dos filmes que assisto, analisando-os sob vários aspectos. Não pretendo (veja bem pretendo) destruir filmes, nem ovacioná-los. Não existe perfeição (longa discussão...) mas, talvez, exista pequenas epifanias em cada filme. Enfim, espero ter me feito entender. Apreciem.


P.S.: A foto é pra dar boas-vindas com os mestres. ;)