sábado, 16 de março de 2013

Caverna dos sonhos que eu já nem lembrava



Não tenho certeza de quando mas, há algum tempo, o tema sobre a busca do ser humano pela representação de seu pedaço de realidade tem me interessado e me deixado absorta em pensamentos longínquos. Minha admiração por este filme do cineasta Werner Herzog, que assisti hoje numa sessão promovida pelo cineclube da universidade em que estudo, Caverna dos Sonhos Esquecidos, vem do fato de ele colocar-se à frente de perguntas que remetem a este tema, pois o tempo todo eu me admirava com o capacidade do ser humano, desde os tempos mais remotos, em buscar a representação daquilo que via, a busca por afugentar aquele pedaço de tempo. Me impressiona a eterna caminhada do homem por capturar e eternizar o momento, sabendo-se incapaz disso. Recorrer a desenhos de fusões humano-animal, mutações, talvez sejam formas de se comportar diante do tempo, da passagem desse tempo que nos é tirado. Me vi deslumbrada pela possibilidade de ver um lugar intocado, inóspito, que trazia-nos um pedaço da dimensão do que é o tempo histórico. 
Pois, diante de tantas imagens bonitas, ficou-me esta sensação, que permeia debates de arte a muitos anos e que é cara a todos que entram nela: a representação da vida, através da arte é, talvez, uma utopia. Nunca resgataremos aquele pedaço de momento. Nunca teremos a exata certeza do que aconteceu. Mesmo a câmera de Herzog, que nos levou a passear pela caverna, não mostrou-nos tudo. Ou tudo que veríamos se estivéssemos lá. Desse modo, essa sensação de incompletude, de falta de abrangência, fica martelando meus sentidos nesse momento, fazendo-me pensar, como estudante de cinema, que pedaço de mundo eu quero representar? O que pretendo eu levar para o público? Que pretensão é essa de ser cineasta, querer abranger o todo, quando isto é impossível? Talvez, sejam estes pequenos pedaços que levam a uma compreensão um pouco maior do que vem a ser o mundo, que nós vemos e que queremos mostrar. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário