sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

A insegurança produz ruídos






Não sei bem como explicitar o desconforto que O Som ao Redor, do diretor Kléber Mendonça Filho, me causou. Como muitas pessoas, tenho medo, talvez até  demais, da violência. No caso desse filme, não se trata somente da violência urbana, mas sim, da violência interna, da violência velada do dia dia, seja numa dona de casa frustrada ou num coronel que ascendeu através da exploração de classes mais baixas. O fator do desconforto está, justamente, nessa aura que a direção de som cria no filme, com maestria, pois nos leva a momentos de tensão e incomodo, como se não pudéssemos respirar. O alívio vem atrelado a metáforas, que nos transportam para a violência novamente, como a cachoeira de sangue e mergulho em uma área de risco. Não se trata, portanto de um filme simples, linear, óbvio. É daqueles filmes que desafiam o público a ver além do superficial, a se identificar com os personagens, em menor e maior grau, de forma a nos colocar em situações como as dele. A fotografia põe-nos a par de um interior coronelista decadente e de uma desorganização urbana cheia de arestas e de recantos que expõe as pessoas umas as outras. Assim, o filme trabalha as várias camadas sociais, cheias de um passado histórico baseado na luta de classes e no poder tirânico, vindo tal poder de qualquer pessoa e qualquer lugar. 

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Holy Motors (I)




Eu não assisti em boa qualidade, infelizmente. Fiz download, pois estava muito curiosa e perdi o filme quando esteve em cartaz. Me arrependo pela questão da qualidade, pois a fotografia parece-me digna de uma sala de cinema. Mas, enfim, cá estamos. 
A primeira coisa que devo dizer é sobre o pacto que fazemos com o cinema: queremos ser enganados, chegamos a sala de projeção estamos preparados para ser convencidos daquilo. A sequência inicial de Holy Motors traz justamente essa questão, pois coloca-nos frente a um espectador que adentra um suposta floresta e nela temos o espetáculo do cinema. Daí pra frente, o que nos perturba são as constantes transformações de M. Oscar. Suas personagens são uma sucessão de estranhos, de variadas posições sociais, que preenchem cada ato com muitas dúvidas e reflexões. Aparentemente, este é o trabalho de Oscar, representar outras vidas, representar o tempo todo. Mas e nós mesmos não somos representações, em maior e menor grau? Talvez sim. Nesse caso, os momentos em que Oscar pode ser "ele mesmo", são os momentos em que prepara-se para o próximo personagem dentro da limousine. A senhora, Céline, que o leva pelas ruas é sua guia, sua ligação com o mundo externo e "real". Mesmo assim, ordens são ordens, e Céline tem de lembrar seu companheiro de suas obrigações, o que, de certa forma, cerca os momentos de repouso de Oscar. 

Acredito que o impacto de Holy Motors venha do que poderia chamar-se de "tapa na cara", de um golpe na platéia. Li um texto do crítico Fábio Andrade, na revista Cinética, que me deixou feliz, digamos assim, pois ele compara o filme ao livro do genial Italo Calvino, Se um Viajante numa Noite de Inverno, o qual é um dos meus livros favoritos, do meu autor favorito. Depois disso, comecei a ver essa ligação e percebi que faz todo sentido, sendo o "tapa na cara" que mencionei, a interação de Calvino com o "leitor" e a "leitora", contando a história dos dois. Assim, M. Oscar seria a interação com o público e o fato de não sabermos de onde vêm e qual a história dos personagens que ele interpreta, fazem a analogia proposta na crítica. 
Dito isso e sendo essa minha primeira crítica ou primeira tomada de impressões, deixo aqui a recomendação da leitura e a assistência do filme (he he) e o aviso de que haverá volta, pois pretendo achá-lo em qualidade melhor. 

Olá, olá.




Eu não sei fazer crítica será o espaço para o treino, aperfeiçoamento e blá blá da escrita. Não tenho prática em escrita sobre cinema e não estou aqui para fazer julgamentos de ruim ou bom. Com o pouco conhecimento que tenho de tal arte e com o que arrecadarei ao longo do curso de Cinema, pretendo manter esse espaço como forma de base, de plataforma de lançamentos. São críticas (artigos, ensaios, "textículos") sem pretensões, como forma de mostrar e elucidar o que tirei dos filmes que assisto, analisando-os sob vários aspectos. Não pretendo (veja bem pretendo) destruir filmes, nem ovacioná-los. Não existe perfeição (longa discussão...) mas, talvez, exista pequenas epifanias em cada filme. Enfim, espero ter me feito entender. Apreciem.


P.S.: A foto é pra dar boas-vindas com os mestres. ;)