sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

A insegurança produz ruídos






Não sei bem como explicitar o desconforto que O Som ao Redor, do diretor Kléber Mendonça Filho, me causou. Como muitas pessoas, tenho medo, talvez até  demais, da violência. No caso desse filme, não se trata somente da violência urbana, mas sim, da violência interna, da violência velada do dia dia, seja numa dona de casa frustrada ou num coronel que ascendeu através da exploração de classes mais baixas. O fator do desconforto está, justamente, nessa aura que a direção de som cria no filme, com maestria, pois nos leva a momentos de tensão e incomodo, como se não pudéssemos respirar. O alívio vem atrelado a metáforas, que nos transportam para a violência novamente, como a cachoeira de sangue e mergulho em uma área de risco. Não se trata, portanto de um filme simples, linear, óbvio. É daqueles filmes que desafiam o público a ver além do superficial, a se identificar com os personagens, em menor e maior grau, de forma a nos colocar em situações como as dele. A fotografia põe-nos a par de um interior coronelista decadente e de uma desorganização urbana cheia de arestas e de recantos que expõe as pessoas umas as outras. Assim, o filme trabalha as várias camadas sociais, cheias de um passado histórico baseado na luta de classes e no poder tirânico, vindo tal poder de qualquer pessoa e qualquer lugar. 

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